16 de junho de 2012

Queima do Alho: cultura que cada um leva consigo para além das ideias

As cerca de 200 refeições diárias se esgotam rapidamente; interesse pelo caipira rende longas conversas e gera novos divulgadores culturais

Luiz Felipe Nunes

Com ampla cobertura de imprensa em âmbito nacional, o espaço de gastronomia cultural da Queima do Alho, realizado no Galpão da Cidadania, tem sido destaque da Conferência Rio+20, parceria da ONU – Organização das Nações Unidas com o Governo Federal.
As cerca de 200 degustações diárias têm sido apreciadas com elogios pelo excelente público que circula pelos espaços de saberes dos povos brasileiros, onde São Paulo está representado pela cultura caipira de seu interior, mais precisamente das contribuições do peão de boiadeiro que “marchou” pelos estradões paulistas na primeira metade do século passado.
O destaque se dá, para além da riqueza cultural, pelo fato de que a fruição desse saber vai além da observação – o que se leva, além das imagens, processos e ideias sobre esse fazer, é o próprio sabor, o peso da comida que cada um leva consigo – muitos retornam, com parentes e amigos, já como agentes divulgadores da Queima do Alho e seu entorno cultural: Moda de Viola, contação de causos, dança do Catira, dentre outras práticas como a doma de animais, que inspira o rodeio mas não tem ligação direta com a cultura do peão propriamente dita.
“Estava com saudades da Queima do Alho. Tem sido um grande sucesso aqui, não só pelo sabor, mas pela preservação de uma das muitas culturas enraizadas do Brasil”, comenta Américo Córdula, diretor de Políticas Culturais do Ministério da Cultura (MinC).

Visibilidade
Dezenas de portais e sítios na Internet repercutem o trabalho, lançando as bases da pesquisa em andamento que visa ao registro desse saber culinário como Patrimônio Imaterial da Cultura Brasileira.
Esse movimento pela cultura caipira vem tomando vulto desde 2008, com a concretização da parceria entre Os Independentes, de Barretos, a ONG AGCIP – Associação de Gestão Cultural no Interior Paulista “Prof. Gilberto Morgado” e o Consórcio Intermunicipal Culturando (CIC), que evidencia os saberes e fazeres do interior paulista em todos os cantos do Brasil.
Só no Rio de Janeiro é a terceira incursão cultural caipira: a comitiva esteve por aqui em 2010, no Encontro da Diversidade do MinC (na Fundição Progresso) e também na quadra da escola de samba Unidos da Tijuca – que depois se apresentou, com parte da escola, na Festa do Peão de Barretos, organizada por Os Independentes.

Natureza
O final da trajetória do peão de boiadeiro se dá com o desenvolvimento da malha viária e dos transportes de automóveis, que trouxeram poluição e contrastaram a relação homem-Natureza mantida pelo peão de boiadeiro: ele dormia no relento, caminhava pelas matas, se alimentava dos frutos encontrados e tinha verdadeiro respeito pelo meio ambiente.
Tudo que utilizava era aproveitado e re-aproveitado, em ação sustentável importante e exemplo para quaisquer processos que o homem, em seu lazer e seu trabalho, deve ter em conta.
Essa relação de devoção ao natural se encontra expressa nos termos de linguagem, nas letras das músicas e em outros fazeres culturais que sobrevivem em ações como essa, que leva a Queima do Alho como gastronomia cultural aos cantos e recantos do Brasil e Exterior.

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